Em março, bares e restaurantes da RMC tiveram saldo negativo de empregos; acumulado no trimestre está positivo

Apesar da retração em relação a fevereiro e do salário médio recorde, setor segue com dificuldade em preencher vagas
Campinas, 30 de abril de 2025 – Em linha com os números do Brasil, que sofreu forte retração na geração de vagas em março, o setor de bares e restaurantes (Grupo Alimentação) fechou o mês passado com queda nas contratações com carteira assinada. Segundo o Novo Cadastro Geral de Empregos e Desempregado (Caged), o segmento admitiu 3.128 pessoas e demitiu 3.322, o que resultou em saldo negativo de 194 postos em março. Mesmo com o número negativo, bares e restaurantes da região acumulam saldo de 422 novos postos criados no primeiro trimestre de 2025.
Tanto as admissões e demissões em março desaceleram na comparação a fevereiro, quando o Grupo Alimentação teve 3.873 admissões e 3.026 demissões, com a geração de 847 novos empregos. Dos 20 municípios que formam a RMC, 12 fecharam o mês com mais demissões que admissões. Americana liderou a lista, com 53 postos fechados, seguida de Indaiatuba (-36), Hortolândia e Valinhos (-25), Paulínia e Santa Bárbara D’Oeste (-23), Itatiba (-20).
Entre as cidades que criaram vagas, Holambra aparecem no topo da lista (18), seguida por Campinas (16), Jaguariúna (13) e Pedreira (08).
André Mandetta, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) Regional Campinas, diz que os números da região vieram em sintonia com o desempenho nacional, mesmo com uma ligeira retração. “A princípio, olhamos os úmeros como uma acomodação natural do setor para este início de ano”, pondera ele. “Mas também temos de levar em consideração fevereiro, um mês com forte volume de contratações realizadas pelos bares e restaurantes”, acrescenta Mandetta.
Segundo o presidente da Abrasel Regional Campinas, outro ponto que precisa de atenção é que o setor vive incertezas quanto, com o comportamento dos clientes e ao fim do programa Perse, que podem impactar os resultados ao longo do ano..
Salário médio sobe e dificuldade de mão-de-obra ainda é problema
Mesmo com a retração em março, o setor convive com a falta de mão-de-obra, com mais de 12 mil vagas em aberto apenas na RMC, mesmo com a média salarial de R$ 2.222, maior valor médio. Pesquisa realizada pela Abrasel aponta que 64% dos empresários têm dificuldade de contratar por não encontrarem profissionais qualificados; 61% relatam falta de interessados
Dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD) divulgados em março deste ano, indicaram que o salário no setor de alimentação fora do lar atingiu sua maior média salarial da história, chegando a R$ 2.222. No entanto, quem empreende em bares e restaurantes tem enfrentado obstáculos para preencher as vagas disponíveis: um levantamento da Abrasel, realizado em março, indicou que 90% dos empresários consideram “difícil” ou “muito difícil” contratar novos funcionários. A margem de erro é de 2% e o intervalo de confiança é de 95%.
Ainda segundo a pesquisa, os principais entraves na hora de encontrar mão de obra são a dificuldade de encontrar profissionais bem qualificados (64%) e a falta de interessados nas vagas (61%). Outros motivos também contribuem para o desafio de contratação: horários pouco atrativos para os cargos oferecidos (33%), alta demanda pelos profissionais (23%) e migração da mão de obra para outras áreas (21%).
Além disso, 20% dos empresários afirmam que os salários desejados estão acima das possibilidades de pagamento dos estabelecimentos. Cargos especializados — como sushiman e churrasqueiro, por exemplo — são os mais difíceis de preencher, com 88% dos empreendedores considerando a dificuldade de contratar como “alta” ou “muito alta”, seguidos dos cargos de cozinheiro-chefe (81%) e gerente (78%).
Apesar do cenário desafiador, há expectativa de movimentação no mercado de trabalho no segundo trimestre deste ano. Segundo a pesquisa, 26% dos empresários pretendem contratar, enquanto 61% devem manter o quadro atual e 13% projetam demissões. Entre os que planejam contratar, 46% afirmam que o objetivo é reforçar a mão de obra para atender demandas administrativas ou reorganizar a empresa; outros 34% pretendem renovar a equipe e 32% miram o lançamento de novos produtos, serviços ou unidades físicas.
O setor de alimentação fora do lar é tradicionalmente conhecido como porta de entrada para o mercado de trabalho. A pesquisa da Abrasel indicou que 92% dos empresários do setor contratam pessoas em busca do primeiro emprego ou que não têm experiência na área. E conservar os funcionários já treinados também é um desafio. As estratégias para atrair e reter mão de obra são diversas: 51% oferecem premiação por desempenho; 40% oferecem cursos e treinamentos; 39% oferecem benefícios (como plano de saúde, bolsas de estudo, vouchers); 36% optam por aumentar os salários; 26% flexibilizam os horários de trabalho e 22% oferecem serviço de transporte noturno após o expediente.
“O setor gera muitas oportunidades de emprego, mas ainda enfrenta grande dificuldade para preencher essas vagas, especialmente as que exigem qualificação técnica. Isso mostra a urgência de investir em formação profissional que aproxime o trabalhador das reais necessidades do mercado. Além disso, o aumento gradativo da média salarial no setor, além do oferecimento de capacitações e benefícios, reforça o interesse dos empreendedores em investirem em uma mão de obra mais produtiva”, afirma Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel.
Além da qualificação de mão de obra, outro ponto que Solmucci destaca é a importância da implementação de medidas que retenham os funcionários, considerando que este já é um setor que, naturalmente, tem alta rotatividade.
“Para que a produtividade do negócio não sofra grande impacto com a alternância de colaboradores, investir em tecnologias como automação e Inteligência Artificial pode ser uma estratégia para não comprometer a qualidade do serviço”, diz Solmucci. “Esses recursos têm contribuído para que os negócios ampliem suas atividades, com um padrão e a agilidade no atendimento, por exemplo”, completa.
Preocupações jurídicas
A pesquisa ainda abordou os empresários sobre quais questões trabalhistas mais preocupam os empreendedores. A maioria (56%) teme problemas relacionados ao trabalho de profissionais extras e eventuais; em seguida vêm a escala de trabalhos aos domingos para as mulheres (35%); horas extras (26%); risco de ações por dano moral (19%); pagamento de gorjetas (17%); trabalho terceirizado (16%); insalubridade (14%) e estabilidade para gestantes (11%).