Mais da metade dos bares e restaurantes da região de Campinas operam sem lucro, aponta pesquisa da Abrasel

Campinas, 10 de setembro de 2024 – Com redução no número de clientes e, consequentemente, queda nas vendas, 56% dos bares e restaurantes da região de Campinas operam sem lucro no mês de julho. Desse universo em dificuldade, 25% operaram em prejuízo e 31% em equilíbrio; 44% fizeram lucro. Comparando com o mês de junho, para 31% o faturamento de julho foi superior, para 35% foi equivalente e para 31% foi menor. Os números são da nova pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).

Entre os empresários da região que responderam à pesquisa, 75% apontaram queda nas vendas, 55% tiveram redução do número de clientes nas casas, 45% tiveram dificuldades com o aumento dos custos com alimentos e bebidas e 45% disseram ter dívidas com empréstimos bancários.

Diante do quadro, 37% dos respondentes informaram que seus estabelecimentos tiveram de segurar repasses para os preços nos últimos 12 meses,  62% realizaram reajustes conforme ou abaixo da inflação e apenas 1% reajustaram os cardápios acima da inflação.

A pesquisa da Abrasel também mapeou o endividamento dos associados. E apurou que 30% das empresas têm dívidas em atraso. Destas, 79% têm empréstimos bancários em atraso, 75% devem impostos federais, 46% têm débitos com serviços públicos como água, luz, gás e telefone, 42% devem impostos estaduais, 25% devem encargos trabalhistas e previdenciários, 25% devem a fornecedores de insumos, como alimentos e bebidas, 21% devem a fornecedores de equipamentos e serviços, 17% taxas municipais, 17% devem aluguel e 8% tem dívidas com empregados.

Para André Mandetta, presidente da Abrasel Regional Campinas, o quadro atual do setor é desafiador. “Com alto endividamento e queda nas vendas em julho, bares e restaurantes não conseguem repassar inflação para os cardápios”, disse. Segundo ele, os indicadores revelam ainda que o bom momento no consumo das famílias do primeiro semestre pode estar passando por reversão, mas é preciso avaliar como vai se portar o consumo nos próximos meses, para se ter uma dimensão mais clara da situação.

CENÁRIO NACIONAL

A Pesquisa realizada pela Abrasel com 2.333 empreendedores do setor de bares e restaurantes em todo o Brasil revela que nos 7 primeiros meses de 2024 houve crescimento no número de empresas com dificuldade em reajustar seus cardápios para acompanhar a inflação. Em janeiro de 2024, 31% das empresas registraram o problema, mas o percentual subiu para 40% na medição de agosto, representando um aumento de quase 10%. Esse cenário reflete a pressão dos custos crescentes de alimentos e bebidas sobre as margens de lucro dos estabelecimentos.

Outro dado preocupante é que o nível de endividamento das empresas do setor de bares e restaurantes continua elevado, com cerca de 40% das empresas registrando pagamentos em atraso. Esse índice se mantém constante desde 2023, evidenciando um desafio que continua a ameaçar a sobrevivência das empresas.

O índice de empresas operando com prejuízo também aumentou ligeiramente, passando de 24% em junho para 26% em julho de 2024. Entre os que registraram prejuízo, 71% atribuíram a situação à queda nas vendas, e 67% à redução no número de clientes. Outros fatores relevantes incluem o custo de alimentos e bebidas (45%) e as dívidas com impostos (36%).

A percepção de queda no movimento está alinhada com os resultados da pesquisa mais recente do índice Abrasel-Stone, que apontou uma redução de 5,4% no fluxo de clientes em julho, em comparação ao mês anterior. Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda foi de 6,3%, sendo o maior recuo registrado em 2024 até o momento.

“Se não houver uma ação rápida, corremos o risco de frear o bom momento na geração de empregos no setor. Somente com carteira assinada, foram criados 38 mil empregos no primeiro semestre, um ótimo número, já que em 2023 também houve grande volume de contratações”, afirmou Solmucci. “Os dados do PIB revelados nesta semana mostram que houve aumento do consumo das famílias no segundo trimestre, mas em julho os nossos índices já apontam uma queda. Esperamos que tenha sido algo circunstancial. De modo geral, continuamos otimistas quanto ao fim do ano, mas reforçamos que é preciso um olhar urgente para as empresas em dificuldade”, completa.

Solmucci também vê com preocupação outro fenômeno que traz riscos a quem empreende no país: o crescimento dos aplicativos de apostas online, as chamadas bets. “Estes serviços de apostas e jogos estão desviando cada vez mais receitas do consumo na economia, principalmente em comércio e serviços, que poderiam estar com resultados melhores graças ao aumento da renda média no país. No nosso setor, sem dúvida, este é mais um fator a dificultar a recuperação”, diz Solmucci.